Depois de irreverentemente terem preenchido um lugar de inconformidade punk na cena garage rock de Barcelos no arranque da segunda década deste século, o ano de 2018, com Plástico, trouxe-nos novos Glockenwise. Não foi apenas um disco de mudança, ou sequer o melhor álbum dos quatro editados até então: Plástico é uma celebrada obra-prima incontornável, madura e inteligente, comum polimento pop que muito raramente escutamos ao nosso redor. E se dantes os Glockenwise pareciam olhar o mundo a partir da sua cidade, treinando, sobretudo, a sua fuga, literal e poética, agora reflectem uma reapreciação dessas margens geográficas e estéticas, como locais prenhes de tradições, manifestações culturais e bizarrias fervilhantes. Gótico Português é, por isso, sobre um local ainda mais indefinido, a meia-distância; nem centro, nem margem; olhando para ambos os sítios com uma ambiguidade que estes tempos de incerteza trouxeram. E é neste terreno de irresoluções, e de improvável criação, que os Glockenwise voltam a expor o seu génio e a dar-nos mais um lote de canções fundamentais para os nossos dias.